quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ilíada

Para fazer jus ao título do blog, vou postar algo sobre a obra literária mais antiga do Ocidente: a Ilíada de Homero. Bem, quem leu sabe o por que da menção, quem não leu vai ficar sabendo agora: a obra espirra sangue, suor e lágrimas. É isso mesmo, a obra que o Ocidente adotou como a sua mais antiga expressão literária (atentando aqui ao termo 'literária' no seu sentido material, de obra que se materializou sob a forma escrita) é sanguinolenta. Obviamente, devem ter havido outras obras anteriores, mas essa, por algum motivo, foi a que sobreviveu. Vou citar apenas uma cena de batalha em que Homero (não vou discutir aqui os problemas da autoria do poema) descreve o trespassar de uma lança pelo maxilar de um soldado. Se isso não for sanguinário, eu não sei o que é. Essas cenas de batalhas são descritas com tal primazia que o leitor precisa se esquivar para não ser respingado. Imaginem o quanto aqueles homens, em pleno território atualmente turco, não suaram durante os nove anos da guerra pelo domínio de Tróia (ou pelo resgate de Helena, se assim preferirem). Para falar das lágrimas, além das de Aquiles que vai chorar para a mãe pedindo que fosse a Zeus para que interivisse em seu favor na querela entre ele e Agamêmnon, basta imaginar o quanto esses homens choraram a distância que os separavam de tudo o que eles mais amavam por nove longos anos e a perda de seus companheiros de batalha. Sem falar no sangue, no suor e nas lágrimas dos Troianos, que estavam se matando para se defender da pilhagem e destruição que rondou sua cidade por nove infinitos anos. Ah! as lágrimas de Cassandra que, ao vislumbrar a ruína de seu povo, de sua família, verteram de seus olhos molhando o seu vestido já rasgado pelo desespero; as lágrimas que Príamo derrama diante de Aquiles ao tentar resgatar o corpo de seu filho, Heitor. Talvez não seja tão difícil assim adivinhar o motivo pelo qual essa obra tenha sobrevivido pelos quase três mil anos que nos separam dela; e dos mais de três mil que nos separam dos acontecimentos que ela narra. Às vezes é difícil imaginar como um passado tão longínquo possa nos denunciar a nós mesmos de maneira tão crua e verdadeira. Cada época tem a Helena que merece.

2 comentários:

Das Estepes disse...

Belo gancho para o começo.
Aquiles mariquinha, hi hi hi...

Flávio Tonnetti disse...

Quero saber qual é a tradução mais gostosa de ler.